O dia 2 de fevereiro é o Dia Mundial das Zonas Úmidas. Em 2018 o tema mundial para este dia é “Zonas úmidas para um futuro urbano sustentável”, relembrando a sociedade que a conservação das zonas úmidas não é uma preocupação apenas dos ambientalistas ou de quem vive na natureza, mas sim uma preocupação de todos nós (mesmo da população mais urbana) que dependemos diariamente dos serviços ecossistêmicas e ambientais que estas zonas nos prestam.
Neste sentido, este dia também aproveitamos para comemorar nossos sistemas, seja pelas piscinas biológicas, pelos sistemas de telhado verde, parede verde ou Ecoesgoto. São eles que contribuem para a riqueza da paisagem e oferecem um habitat (artificial) para muitas espécies da flora e fauna selvagem, típicas das zonas úmidas.
Em ambientes urbanos, os nossos sistemas tornam-se rapidamente um “hot spots” da biodiversidade.
A TECNOLOGIA WETLANDS CONSTRUÍDOS
Os sistemas wetlands construídos são uma tecnologia para tratamento de águas e efluentes por mecanismos puramente naturais, que apresentam elevada eficiência, simplicidade construtiva e operacional e beleza estética e paisagística. Estas e outras características os tornam economicamente vantajosos. A principal característica destes sistemas é o uso de vegetação aquática que aumenta a sua eficiência e permite a construção de um espaço esteticamente atraente, podendo, em vários casos, serem concebidos como obras de arte de paisagismo. Do ponto de vista empresarial, o aspecto estético é um dos principais argumentos a favor da tecnologia, mas outro importante fator de inovação é a sua versatilidade de aplicações.
Os wetlands construídos podem ser empregados para:
– Tratamento ou pós-tratamento de efluentes sanitários ou industriais;
– Tratamento de cursos d’água poluídos;
– Desidratação e mineralização de lodos sépticos e/ou de ETE ou ETA;
– Tratamento de águas de drenagem ácida de mineração;
– Tratamento de águas subterrâneas contaminadas;
– Tratamento de águas de escoamento superficial (urbano/rural/industrial).
MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO
Nos wetlands construídos a principal característica que resulta em redução de custos é a sua operação, manutenção e longevidade. Como não há a necessidade de aeradores, como em uma lagoa aerada ou lodos ativados, não há o consumo de energia elétrica para o funcionamento do sistema, dependendo do projeto em questão. A manutenção do sistema é bastante simples, bastando um funcionário para abertura e fechamento de válvulas/comportas e inspeção rotineira com eventuais correções. Também é possível automatizar alguns itens do sistema.
Outro diferencial a ser comentado é a não geração de lodo, o que reduz significativamente os custos com transporte, estabilização e secagem destes resíduos sólidos. O lodo nestes sistemas é degradado dentro do meio filtrante.
MECANISMOS DE REMOÇÃO DE POLUENTES
A comunidade científica internacional vem elucidando em profundidade, ao longo das últimas décadas, os vários mecanismos e processos pelos quais os poluentes são removidos nos wetlands. Cada grupo de poluentes (orgânicos, inorgânicos, patógenos) segue rotas específicas de degradação ou remoção. Em resumo, podemos dizer que nestes sistemas ocorrem processos físicos (filtração, sedimentação, volatilização), químicos (absorção, oxidação, redução, precipitação, quelação) e biológicos (degradação e absorção pelos microrganismos, decaimento de patógenos, extração pelas plantas, entre outros). Estes processos ocorrem simultaneamente nos wetlands construídos e é isso que confere tamanha robustez a estes sistemas.
O PAPEL DA VEGETAÇÃO
As plantas são o elemento mais notável nos wetlands construídos e por isso estes sistemas se tornaram tão atraentes. Na literatura científica internacional há incontáveis pesquisas que mostram a importância da vegetação nos sistemas, segue alguns:
– Aumentam a área de filtragem;
– Aumentam a superfície de contato na subsuperfície;
– Estabilizam o meio suporte;
– Liberam oxigênio e elevam o potencial redox;
– Aumentam a diversidade, densidade e atividade biológica;
-Absorvem nutrientes e elementos-traço a certo limite;
– Liberam exsudatos radiculares importantes para as reações;
– Aumentam a condutividade hidráulica no meio suporte;
– Reduzem o processo de colmatação;
– Representam beleza estética e paisagística;
– Atraem biodiversidade criando um sistema ambientalmente rico.
Há que se considerar, porém, que apesar dos serviços ambientais e de favorecer e potencializar os processos de remoção de nutrientes, a vegetação tem apenas uma parcela de contribuição no tratamento dos efluentes. A biomassa (fungos, bactérias e vírus) aderidas ao meio suporte, bem como os fenômenos físicos químicos particulares ao sistema, são os principais responsáveis por tratar as águas residuárias.
São diversas as espécies de plantas com potencial para emprego nos SAC. Uma das formas de se abordar esta questão é propondo duas divisões para a vegetação no sistema.
Na vertente paisagística, espécies ornamentais de diferentes folhagens, florações e alturas são escolhidas e organizadas compondo um projeto paisagístico. Podem ser empregadas plantas aquáticas, anfíbias ou terrestres, dependendo do tipo de wetland que se vai implantar, da disponibilidade da vegetação e do interesse do cliente.
Na vertente agroeconômica, se seleciona uma ou mais espécies de interesse comercial que podem trazer retorno econômico para o cliente, como espécies forrageiras para alimentação animal. De maneira geral, devem-se selecionar espécies que toleram condições de alagamento, que tenham sistema radicular bem desenvolvido, que apresentem manejo simples e que não sejam invasoras na região da implantação. Podemos citar diversas espécies vegetais de interesse para aplicação nos wetlands construídos, especialmente num país como o Brasil, conhecido por sua biodiversidade. Há também espécies de culturas que podem trazer outros benefícios econômicos ao sistema, como citado anteriormente. Há uma lista extensa de plantas que ainda precisam ser investigadas e validadas. Dentre as mais amplamente empregadas estão a Typha latifolia (Taboa) e o Phragmites australis (fora do Brasil).
As características que tornam uma planta aquática, ou outra planta, ideal para os sistemas wetlands construídos são:
– Ciclo de vida perene;
– Sistema radicular volumoso e extenso;
– Suportar ambiente contínua ou temporariamente alagado e eutrofizado;
– Apresentar elevada taxa de crescimento e propagação por rizomas;
– Facilidade de manejo/poda/colheita e controle de crescimento;
– Baixa susceptibilidade à incidência de pragas e doenças;
– Não devem ser espécies invasoras;
– Apresentar potencial estético ou de reuso de biomassa, por exemplo: alimentação animal (grãos, matéria verde e feno), produção de flores e fibras.
Texto: Catarina Schmitz Feijó
Referência: Wetlands construídos; piscinas biológicas.
Data: 01.02.18