Nos últimos anos, tem-se observado uma forte campanha a favor de telhados brancos ou reflexivos. O Green Building Council (GBC), através do LEED, vem apoiando a iniciativa para que a construção civil também opte por este padrão para amenizar o aquecimento global e as mudanças climáticas.
No entanto, um recente estudo da Universidade de Stanford (Urban Heat Island, 2011) mostra que as “membranas telhados brancos” tendem, na verdade, a contribuir para o aquecimento local e global. Como tem alto nível de refletividade, direciona calor para a atmosfera, aquecendo partículas pretas e marrons do ar, gerando calor no entorno (efeito ilha de calor). Além do mais, são superfícies mortas e impermeáveis que embora reflitam a luz solar, ignoram outros desafios cruciais para o bem-estar do meio ambiente urbano, como a emissão de CO2, as ilhas de calor, a perda da biodiversidade e a evasão de esgoto pluvial. Logo, o GBC, governantes e consultores deveriam reavaliar seu equivocado apoio a essas coberturas para que soluções mais plausíveis para tais problemas não sejam barradas.
Os telhados verdes, por exemplo, não só têm comprovada eficiência energética, válida para qualquer clima, mas também agem como filtros da poluição do ar, purificando-o por meio de um ciclo natural de troca de gases e variação da temperatura (consomem o calor na fotossíntese e na evapotranspiração), reduzindo as ilhas de calor. Também têm grande eficiência na retenção de água da chuva, contribuindo para evitar a ocorrência de enchentes e a poluição de cursos d’água. Além disso, promovem a biodiversidade em área urbana e ainda possibilitam a saudável integração da população a áreas verdes em pontos antes inimagináveis. Sua irrigação pode dar-se com água cinza ou tratada, desonerando a rede pública deste serviço. Isso sem falar no aprazível aspecto estético de uma superfície vegetada. Enfim, os telhados verdes são de fato vivos e propagam a vida. Eles também são certificados pelo GBC, o que é estranho o mesmo ocorrer quanto aos telhados brancos.
Resistir ao engodo da “sustentabilidade” dos telhados brancos, reduzida na sua refletividade, não é defender um interesse econômico, mas clamar por mais qualidade de vida nas cidades e no planeta. Trata-se, por fim, da promoção de um tipo de telhado “vivo” e biofílico (apreciador da vida, que necessita de vida), caso dos verdes, em detrimento de um telhado “morto” e biocida (adversário, inimigo da vida), como se encaixam os brancos. Assim, resta a pergunta final: Optar por telhados verdes ou brancos? Seu ponto de vista em relação à vida e ao ambiente lhe dará a resposta.
Renan Eschiletti Machado Guimarães
Conselheiro da Associação Telhado Verde Brasil – ATVBrasil