Políticas de compensação, incentivo ou obrigatoriedade: qual é o melhor caminho para mais soluções baseadas na natureza (SBN)?

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O crescimento urbano acelerado e as crescentes demandas por infraestrutura nas cidades exigem políticas públicas eficazes que promovam o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) têm se destacado como alternativas promissoras para enfrentar os desafios urbanos contemporâneos.

No entanto, para a implementação em larga escala dessas soluções a iniciativa privada e o poder público devem caminhar juntos, construindo estratégias capazes de transformar as práticas de planejamento urbano e arquitetônico.

Para isso, políticas públicas específicas precisam ser formuladas ou aprimoradas, e os principais caminhos adotados pelas cidades no Brasil e no mundo são o da compensação ambiental, o dos incentivos fiscais e o da obrigatoriedade legal

Quer saber qual dessas vias é a mais eficaz para promover as SbN em escala urbana? Confira algumas respostas e reflexões no conteúdo abaixo!

Três principais caminhos para promover soluções baseadas na natureza

A legislação e os marcos regulatórios podem estimular práticas sustentáveis de diferentes formas. Quando se trata de SbN, os três principais caminhos são:

Compensação ambiental

A compensação ambiental é uma medida que exige que os impactos ambientais causados por um empreendimento sejam equilibrados com ações de recuperação, preservação ou compensação em outras áreas. No Brasil, essa prática é regulamentada por leis federais como a Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) e a Lei Complementar 140/2011, além de normas estaduais e municipais.

Nos contextos urbanos, a compensação é frequentemente usada quando há supressão de vegetação nativa para obras públicas ou privadas. Os empreendedores são obrigados a implementar medidas compensatórias, como o plantio de árvores, a criação de áreas verdes ou mesmo a instalação de telhados verdes e jardins verticais.

Essa abordagem transforma a degradação inevitável em oportunidade de ganho ambiental, embora sua eficácia dependa da fiscalização e do cumprimento dos termos.

Incentivos fiscais

Incentivos fiscais funcionam como recompensas financeiras para os proprietários que adotam práticas sustentáveis. O exemplo mais comum é a redução do IPTU Verde, uma política já adotada por várias cidades brasileiras.

Esses programas concedem descontos no imposto predial a imóveis que adotam tecnologias sustentáveis, como:

  • Telhados verdes;
  • Sistemas de captação e reuso de água da chuva;
  • Painéis fotovoltaicos;
  • Jardins verticais;
  • Pavimentos drenantes.

Essa é uma forma de reconhecer o papel do cidadão na promoção de um ambiente urbano mais resiliente, premiando condutas que geram externalidades positivas.

Obrigatoriedade legal

Por fim, há a via da obrigatoriedade legal, ou seja, a imposição de normas técnicas e urbanísticas que exigem a adoção de SbN em novos projetos ou reformas. Exemplos incluem:

  • Legislações municipais que tornam obrigatório o uso de telhado verde em prédios públicos;
  • Códigos de obras que exigem áreas permeáveis mínimas nos terrenos;
  • Planos diretores que reservam espaços obrigatórios para corredores ecológicos ou parques urbanos.

A obrigatoriedade pode parecer radical, mas é um instrumento consolidado em diversas outras áreas do urbanismo, como recuos obrigatórios, taxa de ocupação, altura máxima e ventilação natural mínima. A grande diferença é que, no caso das SbN, estamos lidando com uma cultura de implantação ainda em amadurecimento.

Selos/certificados de sustentabilidade

Há, ainda, uma “quarta via”, a qual, embora importante, não é interessante se analisada isoladamente: a dos selos (ou certificados) de sustentabilidade, como aqueles fornecidos pela iniciativa privada, como  LEED, AQUA, BREEM, etc.

Embora interessantes e pertinentes no âmbito do mercado e da concorrência, uma vez que comprovariam tecnicamente que um empreendimento seria ambientalmente responsável, eles buscam apenas aproximar o consumidor que tem tal preocupação.

Muitas cidades criam selos públicos similares a esses, mas, para que tenham algum efeito prático que não sejam aqueles junto ao mercado, precisam estar relacionadas a outras normas, e estas são, justamente, as de incentivo, compensação e obrigatoriedade. 

Exemplo: tendo uma edificação o selo de sustentabilidade “X”, ela poderá ganhar desconto de IPTU, a possibilidade de construir mais ou, ainda, se apresentará como um pré-requisito para a aprovação de um projeto em determinada região.

Logo, a menção aos selos de sustentabilidade é válida, mas para fins de complementaridade às demais medidas, pois, sem elas, tais certificações são ineficazes. 

Qual é o melhor caminho: uma análise comparativa?

Para compreender qual dessas abordagens é mais eficaz, precisamos sopesar os prós e contras de cada uma, com base em dados, experiências de municípios e resultados esperados.

Incentivos fiscais

Os programas de IPTU Verde têm ganhado adesão em diversas cidades brasileiras. No entanto, a adesão ainda é limitada ao universo de proprietários com maior poder aquisitivo ou acesso à informação. Muitos não sabem que podem solicitar o benefício ou esbarram em processos burocráticos.

Vantagens e desvantagens

Vantagens:

  • Estimula voluntariamente práticas sustentáveis;
  • Gera engajamento e conscientização;
  • Custo relativamente baixo para o poder público.

Desvantagens:

  • Baixo alcance em áreas mais vulneráveis;
  • Depende de campanhas de comunicação eficazes;
  • A burocracia pode inibir interessados.

Ainda assim, os dados indicam que o incentivo pode crescer com o tempo, e que campanhas bem estruturadas de informação e simplificação de processos são fundamentais para sua expansão.

Compensação ambiental

A compensação ambiental urbana, embora mais conhecida no meio rural e em grandes empreendimentos, tem crescido como alternativa em cidades com marcos legais avançados.

O maior desafio da compensação é a efetividade na execução das medidas. Em muitos casos, os projetos são aprovados no papel, mas não saem do campo. Isso exige fiscalização, controle público e mecanismos de transparência.

Além disso, o impacto pode ser localizado e não necessariamente articulado a um plano urbano mais amplo. Ainda assim, é uma ferramenta importante para reverter perdas ambientais e gerar infraestrutura verde onde ela não existia.

Vantagens:

  • Gera ganho ambiental em troca de perdas inevitáveis;
  • Pode fomentar requalificação de áreas urbanas degradadas;
  • Pode ser ajustada à escala do impacto.

Desvantagens:

  • Alto risco de descumprimento;
  • Requer estrutura técnica e jurídica sólida;
  • Pode ter foco muito localizado e pouco sistêmico.

Obrigatoriedade legal: solução ou imposição?

A obrigatoriedade legal é, sem dúvida, a política pública mais controversa, pois enfrenta resistência de setores do mercado imobiliário e defensores da liberdade econômica.

Por outro lado, ela garante escala e universalização, além de estar alinhada a outros instrumentos de regulação urbana já consolidados.

A obrigatoriedade de calçadas com acessibilidade, de ventilação mínima nos cômodos e de drenagem adequada nos lotes são exemplos de exigências legais que hoje ninguém mais questiona — mas que, quando implementadas, também geraram resistência.

É importante lembrar que a liberdade econômica nas cidades é limitada por normas que garantem qualidade ambiental, salubridade e segurança coletiva. A adoção de telhados verdes ou áreas permeáveis obrigatórias se insere nesse mesmo princípio.

Vantagens e desvantagens

Vantagens:

  • Garante escala e universalização;
  • Integra SbN ao padrão construtivo;
  • Facilita planejamento urbano integrado.

Desvantagens:

  • Pode ser vista como imposição arbitrária;
  • Exige fiscalização e punição por descumprimento;
  • Pode gerar aumento de custos em curto prazo para construtoras.

Adaptação verde da infraestrutura urbana: uma questão de política pública

Independentemente de qual abordagem se adote — compensação, incentivo ou obrigatoriedade — o essencial é que haja um caminho institucional claro e ativo.

As SbN ainda não fazem parte do cotidiano das cidades brasileiras. O padrão de urbanização predominante é cinza, impermeável, hostil à biodiversidade e desconectado dos ciclos naturais. Para reverter esse modelo, é imprescindível que o poder público lidere o processo, oferecendo incentivos, impondo regras ou trocando danos por benefícios ambientais, sempre de maneira transparente, democrática e ciente da necessidade de equilibrar diferentes setores nas discussões a respeito.

A transformação da infraestrutura tradicional em infraestrutura verde não ocorrerá de forma espontânea. Mesmo que existam empresas e cidadãos conscientes, isso não será suficiente para alterar o tecido urbano de forma significativa.

Somente a partir de diretrizes públicas, integradas a planos diretores, códigos de obras, legislações de uso do solo e programas de incentivo, será possível:

  • Garantir continuidade e escala nas ações;
  • Integrar as SbN a políticas de mobilidade, habitação e saneamento;
  • Atrair investimento privado com segurança jurídica;
  • Formar uma cultura urbana sustentável e resiliente.

Qual é o melhor caminho?

Então, qual seria o melhor caminho? Todos, mas com estratégia.

É evidente que não existe uma solução única ideal, mas sim estratégias complementares que devem ser articuladas conforme a realidade local, os objetivos da gestão pública e o perfil socioeconômico da população.

A obrigatoriedade é poderosa para alcançar escala e incorporar SbN ao padrão construtivo, mas deve vir acompanhada de incentivos fiscais e compensações inteligentes que tornem o processo mais justo, eficaz e adaptável. O importante é que as cidades não permaneçam inertes. A ausência de política pública é a pior escolha possível.

Portanto, o melhor caminho é o que promove ação coordenada, gradual e ambiciosa, colocando a natureza no centro da transformação urbana.

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Imagens: Arquivo Ecotelhado