Uma incorporadora, que antes desmatava terrenos inteiros para implantar imóveis, resolveu mudar de atividade e começar a elaborar projetos que valorizam o meio ambiente. A Ecotelhado, atualmente, aplica mudas de plantas em telhados e paredes de empreendimentos novos e antigos, transformando os espaços em verdadeiros jardins.
A troca, segundo o sócio do negócio João Manuel Feijó, 59, valeu a pena. No ano passado, a empresa faturou R$ 6 milhões. Na época em que atuava como incorporadora, o faturamento anual não ultrapassava os R$ 700 mil, de acordo com ele.
A mudança de atividade ocorreu em 2006, quando Feijó, sócio da então incorporadora, afirma que teve uma crise de consciência e resolveu passar a elaborar projetos sustentáveis. O empresário reconhece, no entanto, que a estratégia também foi financeiramente mais rentável, pois o faturamento da empresa, hoje, é quase nove vezes maior do que antes.
“A incorporadora tira o que é da natureza e não devolve. Queria minimizar esse impacto melhorando a qualidade do ar e reduzindo o consumo de água e energia elétrica dos imóveis”, diz.
De acordo com Feijó, o telhado coberto por um gramado funciona como um isolante térmico e reduz a temperatura interna do imóvel em até 8º C. Segundo o empresário, a economia de energia elétrica em prédios comerciais que utilizam ar-condicionado pode chegar a 40% com o telhado verde.
A redução do gasto de energia é confirmada pelo coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Ênio Moro Júnior. Para o especialista, no entanto, a economia pode chegar a 15% e a redução da temperatura interna a, no máximo, 5º C.
Desde que foi criada, a empresa, com sede em Porto Alegre (RS), já implantou 250 mil metros quadrados de telhado verde, sendo 70 mil –equivalentes a quase dez campos oficiais de futebol, segundo o padrão Fifa– somente no ano passado, segundo Feijó.
O preço para instalar o telhado verde varia conforme o projeto, tamanho do imóvel e tipo de planta escolhido, de acordo com o empresário. Para casas, o valor pode chegar a R$ 10 mil. Para empresas, condomínios e hotéis, o custo pode ser acima de R$ 100 mil.
Água captada da chuva, pia e chuveiro pode irrigar telhado
Depois de instalado, o telhado verde necessita de um sistema de irrigação para o dono cuidar da sua limpeza e conservação, segundo Feijó. Para realizar esta tarefa de forma sustentável, a Ecotelhado desenvolveu um sistema que capta água da chuva, pias, chuveiros e vasos sanitários do imóvel.
Antes de chegar ao telhado, a água captada passa por um tanque debaixo do solo, que filtra as impurezas e a prepara para ser reutilizada. A mesma água pode ser aproveitada na descarga do vaso sanitário, de acordo com o empresário.
“Em prédios comerciais, onde o consumo de água não potável é maior, a economia pode chegar a 70%. Já em casas e condomínios residenciais, a redução no uso da água fica entre 30% e 40%”, declara.
Imóveis antigos precisam de estrutura resistente
Moro Júnior afirma que a instalação do telhado verde em prédios já construídos exige cuidados. O motivo é que o gramado pode gerar um acréscimo de 60 kg ou mais por metro quadrado sobre a estrutura do imóvel.
“Os alicerces da casa precisam ser resistentes para suportar o peso extra. Além disso, o telhado precisará de uma camada impermeabilizante debaixo da grama e de um sistema de drenagem para evitar sobrepeso com a água da chuva. É algo que não dá para ser feito sem o auxílio de um arquiteto ou engenheiro”, afirma.
Solução é tendência no mercado, mas nicho ainda é pequeno
De acordo com o professor de empreendedorismo do Insper Marcelo Nakagawa, o uso de telhados verdes é uma tendência entre as construtoras e incorporadoras de grande porte. No entanto, segundo ele, os custos de instalação e de manutenção do telhado verde dificultam uma adesão em maior escala no mercado.
“É um nicho ainda pequeno e apenas construtoras de alto padrão têm interesse em fazer um prédio com telhado verde. Hoje, dificilmente empreendimentos voltados para as classes com menor poder aquisitivo utilizariam essa solução porque encareceria demais o valor do imóvel”, declara.
Afonso Ferreira
Do UOL, em São Paulo, 10/04/2014