As Wetlands se destacam como um sistema de tratamento de efluentes interessante por apresentar tecnologia simples, fácil operacionalidade, de baixo custo e possibilitam o reuso de água, agregando além dos benefícios do tratamento dos efluentes, uma economia nos gastos de tratamento de água.
As cidades brasileiras sofreram em geral, um processo de ocupação urbana sem planejamento, promovendo uma continua devastação das áreas de vegetação nativa e a degradação das áreas de várzeas.
Considerando-se a importância de se recuperar essas áreas, as wetlands construídas podem recriar um ecossistema mais equilibrado, já que além dos processos de autodepuração da água, também promovem a maior umidade da região propiciando o desenvolvimento da vegetação e um melhor equilíbrio térmico da cidade.
A organização internacional Wetlands International (WASH) publicou em janeiro de 2010 um caderno de benefícios da implantação de wetlands, além dos ambientais, tais como a regularização climática, benefícios sócio-culturais como a estética criada pela paisagem, a possibilidade de atividades recreativas e de lazer, a oportunidade de educação ambiental direta ou indiretamente.
Esses princípios se evidenciam no caso do projeto do Parque ‘du Chemin de L’le’, Nanterre – França, construído entre 2003 e 2006, e expandido em maio de 2012, ganhando certificação “espaço verde ecológico”, oferece aos visitantes 14.5 hectares (145.000 metros quadrados) de relaxamento e lazer, que teve como principal objetivo recompor uma antiga área industrial e de estradas e vias férreas, gerando uma nova atividade econômica, social e urbana de qualidade.
O projeto buscou uma aliança entre a cidade e a natureza, propondo uma nova lógica de parque urbano onde as wetlands construídas, chamadas de jardins aquáticos filtrantes, são à base da estrutura do projeto, purificando parte das águas do rio Sena. Os principais objetivos são a regeneração da biodiversidade local; despoluição da água do Rio Sena; a criação de áreas verdes; e criação de conexões verdes entre bairros.
O parque possui total autonomia hídrica, a água resultante do processo de fito-depuração é utilizada na irrigação das plantações, prados e hortas familiares ou retornos purificados no rio, promovendo assim a formação de áreas de desova dos peixes. A água do Sena é transportada por meio de um parafuso de Arquimedes e, posteriormente, é purificada passando por sete tipos de piscinas dispostas em cascata, uma depois da outra. As plantas de cada piscina foram selecionados de acordo com as particularidades para a despoluição e filtragem e aprimoramento da qualidade da água.
Há ainda um viveiro para o desenvolvimento das futuras plantações do parque possibilitando a integração do ambiente urbano com a natureza não apenas por estética, mas a tornando útil e vital para a cidade e seu desenvolvimento.
Le Chemin-de-l’Ile Park é um modelo de reconciliação entre natureza e atividade humana. Desenvolver um parque em uma terra profundamente marcada por dois séculos de urbanização caótica foi um desafio, porém criou-se um lugar acessível para viver, conviver, relaxante e agradável para quem passa, um lugar de cura no centro da cidade.
A primeira piscina (ou jardim filtrante) contém Typha angustifolia e Phragmites Communis para quebrar as cargas orgânicas. A função é a de retirar as cargas poluentes, reduzir as taxas de nitratos, metais pesados e matérias orgânicas em suspensão.
A segunda piscina utiliza Equisetum fluviatile, Iris pseudacorus e Iris sibirica para eliminar germes. O papel da segunda bacia é o de suprimir as bactérias.
Os últimos piscinões contêm plantas oxigenantes: lírios de água (Nymphaea alba), Nymphoides peltata, e Glyceria aquatica. Além disso, lodaçais foram projetados para os insetos e anfíbios e locais para promover a desova dos peixes. As bacias restantes fazem a oxigenação da água e atesta que seja de boa qualidade uma vez que os lírios só se desenvolvem em águas com taxas de oxigênio satisfatórias.
Resultados
No parque são tratados aproximadamente 40 m³/h de água do Sena, e voltam aproximadamente 30 m³/h; ele produz entre 40 e 80m³ de resíduos verdes que são reutilizados no local, e não é utilizado nenhum tipo de produto químico. O consumo total de eletricidade pelas edificações bioclimáticas é de 200 kWh/ano.
A água que entra do Sena carrega compostos orgânicos, nitrogênio, fósforo e germes e tem uma qualidade da água classe 3 (Sistema Francês). Na saída, alcança uma qualidade classe 1B, que significa “águas para banho”.
O projeto também tem como objetivo desenvolver uma natureza comum, mas variada. Assim, ao lado de áreas de horticultura ou de turfa, o parque abre em prados floridos, lagos, árvores isoladas, sebes, bosques para diferentes papéis ecológicos.
A dimensão do desenvolvimento sustentável é realmente parte do projeto, apresentando-se nesses exemplos: a consideração da biodiversidade, tratamento de ar, o uso de energia solar, processamento e gestão racional da água, gestão de biomassa (fontes orgânicas que são usadas para produzir energias), a redução do ruído. Seu valor ecológico é aumentado em várias instalações: cascalho para a desova dos peixes, lodaçais para insetos e anfíbios. O dispositivo deste segmento inclui um gabião submerso, criação de uma zona costeira rasa plantada com vegetação aquática e substratos variados.
Com base na preservação sustentável dos recursos e do meio ambiente, o parque restaura um ecossistema no qual flora e fauna enriquecem uns aos outros. Localizado em frente ao futuro parque, Fleurie Island, um local protegido, é um refúgio para aves e muitos animais. Este reservatório natural favoreceu a manutenção da biodiversidade nas margens do Nanterre, onde ainda existem as espécies raras de plantas e insetos.
Devido às características de fácil operacionalidade, tecnologia simples e baixo custo tanto de implantação quanto de manutenção, as wetlands construídas se mostram como uma alternativa promissora para o saneamento descentralizado, se tornando uma alternativa de desenvolvimento sustentável e que proporciona benefícios sociais e ambientais. O uso de Wetlands pode trazer, além de melhoras de saneamento para muitas pessoas, a educação ambiental necessária para a preservação e conservação dos bens naturais de nossa cidade.
A Ecotelhado, em quase todos os seus produtos, se baseia nas utilidades do sistema de Wetlands. O armazenamento, limpeza e reuso da água é muito importante para o nosso futuro. O Ecotelhado, que evita o acúmulo desnecessário de sobrepeso gerado pela terra ou substrato nos sistemas convencionais, armazena a água na própria laje, embaixo da vegetação, utilizando as raízes como forma de limpeza.
Sistemas como o Laminar Médio, Alto ou Hidromodular. As piscinas naturais, ilhas flutuantes, e claro, o Sistema Integrado Ecoesgoto, além de todos os nossos outros produtos, são o futuro que precisamos para tornar nossas cidades melhores e mais suscetíveis a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza.
*Texto | Catarina Schmitz Feijó
Referências: Trabalho USP Águas e várzeas urbanas: preservação e proteção de recursos naturais renováveis; Programa cidades sustentáveis; Paris EStun jardin; Hauts de seine; Gestão no campo; UFSC permacultura.