POR QUE ARQUITETOS DEVEM ASSUMIR O PAPEL DE LÍDERES NAS QUESTÕES DE SUSTENTABILIDADE

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Knox Innovation Opportunity and Sustainability Centre | Woods Bagot | Foto: Peter Bennetts

Um dos grandes nomes da sustentabilidade, Hunter Lovins, certa vez disse que a indústria da construção é “dinamicamente conservadora – ela trabalha duro para permanecer no mesmo lugar.”

 Mas os velhos hábitos não podem resolver completamente novos desafios. De acordo com a 350.org, as empresas de combustíveis fósseis tem atualmente em suas reservas cinco vezes a quantidade de carbono que, se queimada muito rapidamente, poderia elevar as temperaturas atmosféricas a níveis catastróficos onde tempestades da escala do furacão Sandy poderiam se tornar frequentes. O progresso rápido e profundo é imperativo.

A arquitetura está em uma arena essencial para a inovação sustentável. As construções representam cerca da metade da energia gasta das emissões anuais nos EUA e três quartos da eletricidade consumida. Com o ambiente da construção em crescimento – o parque imobiliário dos EUA aumenta cerca de 278 milhões m² a cada ano – os arquitetos têm uma oportunidade histórica para transformar este impacto em algo positivo.

Há sinais encorajadores. Desde que o sistema de classificação LEED do Conselho Norte Americano de Construção Sustentável foi criado cerca de 15 anos atrás, mais de 929 milhões de m² de construção foram certificados ou registrados, de acordo com o USGBC. A economia de energia média para edifícios certificados é de cerca de 32%, e para as próximas duas décadas é esperado uma diminuição de 16 vezes da tonelagem de carvão usado, segundo estimativas.

Em 2006, o Instituto Americano de Arquitetos sabiamente adotou a campanha de Arquitetura “Desafio 2030”, uma iniciativa que visava a neutralidade de carbono na indústria até o ano de 2030. “Acreditamos que devemos alterar as ações da nossa profissão“, diz o relatório do AIA 2030, “e incentivar nossos clientes e todo o design e indústria da construção civil a se unirem a nós para mudar o curso do futuro do planeta.”

O AIA, no entanto, removeu em 2012 o projeto sustentável dos requisitos de educação continuada dos membros: “Reconhecendo que as práticas de design sustentável tornaram-se uma intenção de design dominante na comunidade de arquitetura, o conselho de diretores votou para permitir que a exigência de educação de design sustentável cesse no fim do calendário do ano de 2012″, relatou o Instituto. Outros tipos de créditos de educação continuada seguem obrigatórios.

O Conselho do AIA defende que o design sustentável se tornou “convencional”, mas não explica como chegou a essa conclusão. Nos últimos anos, alguns dos arquitetos mais famosos do mundo têm publicamente rejeitado a sustentabilidade, entre eles o medalhista de ouro do AIA, Frank Gehry, referindo-se a sustentabilidade como algo “falso”, e o vencedor do Prêmio Nacional de Design, Peter Eisenman, insistindo que a sustentabilidade “não tem nada a ver com a arquitetura.” Enquanto isso, de acordo com a própria documentação de progresso do AIA em relação às metas de 2030, apenas 12 a 13% dos projetos das empresas relatadas estão alcançando as metas atuais. Os números poderiam ser muito menores para outros arquitetos já que os participantes de 2030 serão presumivelmente adeptos iniciais.

A decisão de suspender a exigência de design sustentável significa que enquanto o AIA insiste que os arquitetos “devem” alterar as suas ações, uma mudança, de fato, não é obrigatória. O USGBC teve sua cota de controvérsias com os críticos protestando que o LEED não vai longe o suficiente, mas que, no mínimo, representa um padrão de referência de realização, e os números citados acima mostram um claro progresso, mesmo que este progresso deva acelerar. O AIA, que se auto intitula a principal associação de arquitetos, não tem obrigações semelhantes para seus quase 80 mil membros. Apesar de toda sua retórica progressiva, os esforços do AIA não garantem qualquer grau de progresso.

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Os educadores também não parecem estar fazendo progressos significativos. Cinco anos atrás, Kira Gould e eu fomos co-autores de um relatório para o AIA, “Ecologia e Design: Alfabetização Ecológica na Educação de Arquitetura”, que estudou como escolas de arquitetura estão abordando a sustentabilidade. O que encontramos, de modo geral, é que elas não estão, pelo menos não de forma voltada para o mercado. Algumas escolas oferecem um curso obrigatório introdutório, e muitos programas de graduação, tais como o de Ambientes Sustentáveis da Cal Poly, são um modelo convincente para a educação interdisciplinar, mas são estudos eletivos. Até agora, nem uma única escola de arquitetura exige que seus alunos sejam totalmente treinados a partir dos princípios do design sustentável. O relatório ofereceu recomendações para transformar a educação, que incluiu o currículo modelo “Educação em Design Ambiental Sustentável”, mas que eu saiba, nenhuma escola adotou estas orientações ou semelhantes.

Em janeiro, os chefes de 19 escritórios de arquitetura de renome, incluindo o meu próprio, assinaram uma carta ao Conselho Nacional de Acreditação Arquitetônica, a agência responsável pelo padrão americano de ensino da arquitetura, apelando para a mudança: “As escolas profissionais de projeto estão bem preparadas para fornecer a liderança no ensino superior necessária para enfrentar o que nós julgamos ser o maior desafio deste séculoa preservação de um planeta habitável”. Liderados por Ed Marzia do Architecture 2030, os arquitetos solicitaram ao NAAB que este exigisse que cada estudante de arquitetura “tivesse capacidade projetual para enfrentar os desafios ambientais encarados por diversas comunidades em todo o globo.”

Na cultura projetual, a inovação, muitas vezes significa pouco mais do que novidade estética. Procure no Google a frase “arquitetura inovadora” e você encontrará diversas geometrias provocativas, mas poucas (ou nenhuma) soluções inovadoras para os problemas mais graves. O projeto pode ser um poderoso agente de mudança, mas as premiações de projeto e a atenção da mídia em geral celebram o visual sobre a inovação.

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Eco-Sustainable House | Djuric Tardio Architectes | Foto: Clément Guillaume

6 passos para transformar a profissão de arquitetura

O AIA está certo ao afirmar que os hábitos da profissão devem mudar, mas a mudança mais radical é necessária agora. Abaixo estão seis simples, mas dramáticos, passos para transformar a profissão e a prática da arquitetura. Se a sustentabilidade realmente tornou-se convencional, como o AIA insiste, a mudança não deve ser difícil de se alcançar.

1- Imediatamente, cada organização que premia arquitetos pode começar a recompensar somente estruturas que satisfaçam um padrão mínimo de performance sustentável.

2- Dentro de seis meses, cada revista de projeto pode começar a destacar somente construções que satisfaçam um padrão mínimo de performance sustentável.

3- Dentro de um ano, cada órgão público, incluindo os governos federal, estadual ou municipal, pode exigir que todos os projetos iniciados no mesmo ano cumpram as metas atuais para o Compromisso 2030.

4- Dentro de dois anos, cada escritório de arquitetura pode adotar o Compromisso 2030 e cumprir as metas para todos os projetos iniciados no mesmo ano.

5- Dentro de três anos, cada agência de licenciamento pode exigir que os arquitetos comprovem um nível mínimo de competência em relação ao design sustentável a fim de manter a licença para a prática profissional.

6- Dentro de quatro anos, cada escola de arquitetura pode alterar seu currículo para assegurar que cada estudante de graduação esteja completamente ciente dos princípios e práticas do design sustentável.

Este artigo, que originalmente foi publicado na GreenBiz, é de autoria de Lance Hosey, o diretor da RTKL, em 2013. Seu último livro, “A Forma do Verde: Estética, Ecologia e Design” (Island Press, 2012), é o primeiro estudo das relações entre beleza e sustentabilidade.

Referências: ArchDaily

*Texto | Catarina Schmitz Feijó