CONHEÇA PROJETO DE ARQUITETURA VIVA: HARMONIA 57

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O projeto da Rua Harmonia, dos arquitetos da Triptyque, localiza-se num bairro paulista com grande fluxo artístico e permeabilidade da criação, onde galerias e muros se confundem, funcionando como palco para novas formas de expressão. O beco em frente ao prédio – por exemplo – é coberto por pinturas e grafites. Esse conceito de experimentação extravasa da rua para dentro da obra.

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Como um organismo vivo, o prédio respira, sua e se modifica, transcendendo sua inércia. Suas paredes são grossas, recobertas externamente por uma camada vegetal que funciona como uma pele no edifício. Essa densa parede de concreto orgânico possui poros, de onde brotam várias espécies vegetais, dando às fachadas aparência muito própria.

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Detalhe sistema da parede vegetada

Nessa grande máquina, onde as águas das chuvas e do solo são drenadas, tratadas e reutilizadas, forma-se um complexo ecossistema junto ao local. Esse ecossistema é um universo multifuncional composto de máquinas todas conectadas umas nas outras. É uma zona de multiplicidade, onde os significados e ações flutuam por entre o não-dito, resultando em entidades dinâmicas interconectadas.

Suas entranhas estão expostas nas suas fachadas enquanto seu interior é bem acabado com superfícies limpas e claras, como se a obra estivesse às avessas. A tubulação que serve a todo o prédio – assim como as bombas e o sistema de tratamento e reutilização da água – estão aparentes nas paredes externas, e as circundam como veias e artérias de um corpo. O edifício é como uma base neutra, cinza, esculpida e deformada. A estética é uma resultante do processo – a construção é bruta e possui uma deselegância primitiva – um reflexo da preocupação atual com o meio ambiente e da investigação de formas de intervenção.

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Sua volumetria é bastante simples, porém marcante: são dois grandes blocos vegetais conectados por uma passarela metálica e recortados por janelas e terraços de concreto e vidro. Entre os blocos, uma praça interna se abre como uma clareira e serve como local comunitário, de encontros e trocas. Os terraços estão dispersos em cada pavimento, criando assim um jogo de cheios e vazios no exterior além de alternâncias de iluminação e transparência nos ambientes internos. O bloco frontal é todo suspenso e levita sobre pilotis, enquanto o bloco ao fundo é um maciço, complementado por um volume na sua cobertura que se assemelha a uma casa de pássaros.

Novamente como um corpo, suas janelas abrem-se para o exterior com seus lábios de concreto e terraços recortam os blocos em diferentes pontos, olhando para a cidade de diversos modos, enquanto uma grande boca de concreto convida automóveis a serem engolidos para dentro do prédio. O resultado desse conjunto é um instigante edifício, que propõe uma visão sobre a “arquitetura viva”.

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Planta baixa

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Referências: Tryptique, ArchDaily.

Fotos: Nelson Kon.

*Texto | Catarina Schmitz Feijó