Os chamados prédios verdes estão colorindo cada vez mais as cidades e ganhando força como um setor ativo da construção civil. Isso porque esse tipo de empreendimento, que inclui uma série de materiais e práticas menos prejudiciais ao meio ambiente, ainda ajuda o consumidor na economia de energia. Um estudo realizado pela consultora Ernst & Young em 2013 revelou que o número de edificações certificadas com o selo Leed – que atesta o nível de sustentabilidade – já representa 10% do PIB da construção civil no País. A maior feira nacional de negócios do setor, a Green Building Expo, recebeu 10 mil visitantes e reuniu mais de 100 empresas expositoras do mercado nacional e internacional na última edição.
Há mais de 10 anos no mercado de materiais de construção sustentáveis, Paulo Guimarães observa que o setor, apesar de muito novo, vem ganhando mais adeptos entre os especialistas e a população. “No momento em que os profissionais da área e do poder público se conscientizarem da grande importância que as construções sustentáveis têm para a sociedade e para a natureza, haverá uma revolução, principalmente nos grandes centros urbanos”, acredita o engenheiro civil e proprietário da Ecotelhado, empresa porto-alegrense que produz materiais como telhados verdes, jardins verticais e sistemas integrados de esgoto. Por ser uma das pioneiras do ramo no Rio Grande do Sul, a empresa cresceu rapidamente e hoje tem clientes em vários estados do Brasil e países da América do Sul e Central.
Pelo otimismo dos profissionais, parece que esse pensamento verde não é apenas uma brisa passageira. A arquiteta Ingrid Dahm trabalha com projetos de baixo impacto ambiental desde 2006, ano em que fundou o escritório de arquitetura Cuboverde em Porto Alegre, junto com um sócio. “Quando começamos, as pessoas achavam uma bobagem. Hoje, nos procuram porque fazemos justamente isso”, assegura Ingrid. Na lista de projetos, a empresa tem desde casas residenciais e restaurantes até grandes empreendimentos. Um deles é o Partec Green, prédio comercial de 11 andares e 21 mil metros quadrados que integrará o Tecnosinos. A construção foi projetada visando a eficiência energética, uma exigência dos clientes. “Tem empresas hoje que dão preferência por alugar uma sala em um prédio com certificação, então é interessante para a questão comercial”, avalia a arquiteta.
Não é preciso investir muito dinheiro para a construção de uma casa mais sustentável, garante Ingrid, apontando que existem práticas simples de integrar às edificações. “Por exemplo, nós analisamos primeiro onde estamos inserindo o projeto. Cada região tem suas características, e nós usamoso material local”, explica. Outra medida acessível é o cuidado com a posição das janelas, de forma a diminuir o calor no interior do prédio.
Além de trazer menos danos ao meio ambiente, medidas sustentáveis, se bem aplicadas, contribuem para a economia de energia das construções, diminuindo os valores nas contas de água e luz ao longo do tempo. Materiais como o telhado vegetado reduzem a velocidade de escoamento da água da chuva para rede pública, produzem oxigênio e melhoram o conforto térmico no interior de ambientes, gerando menos consumo de ar-condicionado, por exemplo. Sistemas que reutilizam a precipitação da chuva para o consumo ou integram a água de esgoto tratada para irrigação são fáceis de instalar e acessíveis economicamente.
Há ainda tecnologias de maior investimento financeiro que potencializam a eficiência energética, como o painel fotovoltáico, usado para produção de energia elétrica, e o painel solar, voltado ao aquecimento da água. Opções mais avançadas, como elevadores inteligentes e iluminação de alta eficiência também começam a aparecer no mercado brasileiro. “Nesse caso, a proposta é fazer uma conta ao inverso. Pagar a mais pela tecnologia, mas com o tempo começar a render lucro“, explica Ingrid. Para Guimarães, “é necessário um projeto com especialistas em arquitetura sustentável para que as técnicas sejam bem aplicadas.”
Procura pela certificação Leed vem crescendo no Brasil
Um dos medidores que atestam o interesse crescente pela arquitetura de baixo impacto ambiental é o aumento no interesse pelo selo Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), uma das certificações internacionais que comprovam que as construções são verdadeiramente sustentáveis. No Brasil, a certificação é realizada pela Green Building Council a qual é uma organização sem fins lucrativos que ajuda a fomentar o crescimento do ramo, além de promover a maior feira de arquitetura sustentável do País. A Ecotelhado é um membro da GBC Brasil, e muito procurada, por causa de seus produtos inovadores, por quem quer ter a certificação Leed.
Segundo o diretor, Felipe Faria, a organização está perto de anunciar o total de mil empreendimentos certificados em quase todos os estados do País, o que comprova o interesse de empresários dos mais diversos setores. “Hoje, esses projetos deixaram de ficar restritos às edificações corporativas de alto padrão e passaram a abranger tipologias diversas, desde centros de distribuição até escolas e bibliotecas públicas”, afirma.
Para ser certificada com o Leed, a construção precisa atingir metas em categorias como eficiência do uso da água, qualidade do ar, materiais e recursos. O profissional de arquitetura escolhe entre uma série de sugestões de práticas sustentáveis que o ajudam a cumprir o necessário. Assim, na questão da água, por exemplo, o prédio deve ser ao menos 20% mais eficiente que uma edificação convencional. À medida que a eficiência aumenta, o nível da certificação também sobe. “Como o Leed é baseado em metas de desempenho, ele evita influenciar uma tecnologia em detrimento de outra”, explica Faria.
Além de economicamente interessante para a construção, o selo valoriza comercialmente a propriedade. “Ela muda o patamar do empreendimento e não custa mais, se houver planejamento desde o início. Como todos hoje em dia usam a palavra sustentável, a certificação comprova que de fato é”, avalia a arquiteta IngridDahm.
A organização vê com otimismo o aumento do interesse pela certificação, inclusive por órgãos públicos, mas destaca que ainda existem dificuldades a serem superadas para o crescimento do setor. A falta de diálogo entre os profissionais envolvidos na construção e o pensamento imediatista do setor são alguns dos obstáculos apontados.
Referência: Jornal do Comércio
*Texto | Catarina Schmitz Feijó