Os tradicionais brilhos, feitos de microplástico, levam anos para se desintegrar na natureza e prejudicam também a vida marinha!
Não dá para negar: o glitter é o rei dos bloquinhos de Carnaval. A cada ano que passa, as maquiagens brilhantes fazem mais a cabeça dos foliões. O que nem todo mundo sabe é que o glitter tradicional – ou a purpurina – nada mais é do que um tipo de microplástico.
“O principal problema desse tipo de componente está relacionado ao meio ambiente e sua decomposição, pois os microplásticos levam anos para se desintegrar na natureza – e isso causa contaminação do solo e entope bueiros”, explica Márcio Accordi, que é biológo especialista em cosmetologia e diretor da Biozenthi Laboratórios Cosméticos. Os microplásticos também são conhecidos por se acumularem nos mares e prejudicar a vida marinha. Foi justamente pensando nesse impacto das partículas plásticas que, aos poucos, têm surgido no mercado marcas que fabricam glitter biodegradável.
Uma delas é a Pura Bioglitter, da arquiteta carioca Frances Sansão, que vende seus potinhos cheios de pó colorido online. “Em 2016, meu irmão, que é biólogo, me alertou sobre os perigos dos microplásticos. Então eu, que amo Carnaval, parei para pensar pela primeira vez que as purpurinas que eu tanto amava deveriam ser nocivas também”, conta. Depois de muitos testes – tudo é feito de forma artesanal – ela chegou a um resultado que a satisfez. A marca foi lançada para o Carnaval de 2017, quando recebeu recorde de pedidos. O glitter vendido no site da Pura Bioglitter é feito de algas, pó de pedras e corantes não-nocivos. São cerca de 15 cores, dos mais tradicionais, como dourado, até os multicoloridos como o batizado de Pó de Unicórnio – cada potinho custa R$ 10 e vários deles já estão esgotados.
“Acho que agora que o glitter caiu de vez nas graças do povo, as pessoas estão também se tornando mais conscientes do impacto ambiental que ele causa. Com isso, ouso dizer que o glitter biodegradável será cada vez mais tendência”, diz ela. Tanto que a marca não é a única – várias outras estão surgindo, como a norte-americana Bioglitz e a também carioca Glitra Bio. A inglesa Lush também tem opções de iluminadores brilhantes – mesmo que não sejam purpurinas – feitos com ingredientes naturais.
A Glitra Bio, fundada pelas empresárias Maíra Inae e Nomi Puig é feita por meio de uma impressão metalizada cortada em pequenas partículas. A diferença entre o produto fabricado por elas e o tradicional é que o tradicional é à base de filme plástico ou poliéster, enquanto o delas é feito de celulose de eucalipto renovável.
“Em setembro, eu estava no Burning Man, festival de arte nos Estados Unidos que frequento desde 2011, e fui relembrada que a purpurina é proibida pois um dos princípios centrais do movimento é não deixar rastros e lixo. Aquilo ficou mais uma vez na minha cabeça e, na volta para o Brasil, resolvi que tínhamos que encontrar uma solução pra todos os amantes do brilho”, explica Maíra. A marca foi lançada oficialmente há pouco mais de uma semana e, segundo a idealizadora, a demanda tem sido grande. “Não imaginávamos, mas já estamos recebendo pedidos do Brasil todo e muita gente já compra logo as quatro cores, rosa, turquesa, prata e dourado”, conta.
Microplásticos
Para evitar o uso dos microplásticos, é importante prestar atenção nas formulações dos produtos escolhidos. Rótulos que contenham palavras como polyethylene ou microbeads, por exemplo, tem microplásticos na composição. Isso vale tanto para glitter como para produtos como esfoliantes. “As pessoas têm se importado muito mais com o meio ambiente, principalmente nas últimas duas décadas, mas isso é apenas o começo – ainda é preciso mudar muito a conscientização e cultura das pessoas em geral”, finaliza o biólogo Márcio Accordi.
Outras empresas muito legais que vendem glitter ecologicamente correto são:
“Purpurina” da LUSH: Os pózinhos brilhantes ou purpurinas da Lush são feitos de brilho comestível e farinha de milho. A LUSH é uma das marcas naturais mais conhecidas e todos os seus produtos são cuidadosamente feitos para não agredir o ambiente. Eles são feitos a mão e sem nenhum ingrediente animal.
Color Stick Shock: Para reluzir você não precisa necessariamente de glitter, e se você ama um neon dos anos 80, essa é a melhor alternativa! Além de ter várias cores em um tubinho muito fácil de aplicar, ele ainda te protege do sol com FPS 30, proteção UVA e UVB, é resistente a água e vegano.
Viva Purpurina: Criada este ano, as gaúchas Ingrid, Elisa e Julia inventaram a receita perfeita: uma mistura de alguns componentes alimentícios e pó mineral, responsável pelo brilho. Há uma semana a ideia virou negócio, já com cerca de 200 encomendas, todas feitas a partir do Instagram. Cada potinho de 18ml custa R$10,00, independentemente da cor. Neste domingo (28), elas circularam no Bloco da Laje, tradicional saída de carnaval de rua em Porto Alegre, para ter uma ideia de como são as vendas na rua.
As meninas de Porto Alegre não conhecem na cidade nenhuma marca que venda a purpurina biodegradável. Em nível nacional, encontraram algumas opções do Rio de Janeiro e São Paulo, a um preço considerado alto por elas. “A gente quis fazer um valor acessível. Não queríamos um produto tão elitista, porque o carnaval é a ocupação da rua. Fazer um valor caro iria contra o que acreditamos”, explica Elisa.
A contaminação dos oceanos acontece, pois, a purpurina é feita de um plástico que não se degrada. “Ela é um microplástico, e em quantidade com outros tipos de microplástico no oceano, prejudica a fotossíntese das algas, que atuam como pulmão do nosso planeta gerando oxigênio. Vários animais consomem este plástico e acabam morrendo”, explica Elisa. E o problema não acaba aí: quando estes animais não morrem diretamente por ingerir este material, o plástico vai subindo na cadeia alimentar até chegar no ser humano, detalha a bióloga.
Então, sabendo de tudo isso, neste carnaval, vamos deixar de comprar purpurina ou esfoliantes com microplástico não é? Seja consciente na sua compra.
Texto | Catarina Schmitz Feijó
Referência | Gazeta povo; Modices; PuraBioGlitter; Viva Purpurina; Jornal do Comércio.
Postado | 29.01.2018