O Rio Tapajós, um dos grandes da bacia amazônica está morrendo. Morrendo de mal uso de suas águas, cortadas por uma infinidade de represas que alteram seu fluxo e dificultam a vida marinha, do solo que banha, destruído pela mineração, contaminado por agrotóxicos, mercúrio e esgoto. A contaminação no Tapajós já percorreu os 700 km do rio e chegou à foz, em Santarém.
Santarém e Itaituba tinham até ontem uma bela florescente indústria de turismo – praias bonitas, águas boas, sol constante, e a mata amazônica às costas, passeios pelos igarapés, comer peixe na beira d’água, mergulho nas águas do rio, sem medo de nada. Milhares de pessoas trabalham nesse turismo que depende, integralmente, da boa qualidade dos recursos ambientais que oferece como produto.
Agora tudo isso acaba, morre – o rio está contaminado de metilmercúrio, barro, mercúrio, cianeto, sabões, detergentes, graxas e combustíveis. Os poucos cardumes que ainda se podem ver em suas águas, também. A maior parte do rio já não tem peixes – a ictiofauna não resistiu ao aumento imensurável da lama resultante das movimentações de terras da construção de 43 hidrelétricas por ele espalhadas.
Peixes sobem e descem seus rios, desovam no pé da mata, se alimentam dos frutos que a mata dá nos igarapés – as colônias ficaram confinadas, as populações começam a sofrer de consanguinidade, as doenças começam a se alastrar e espécies, a desaparecerem.
E a saúde da população ribeirinha foi pro brejo, literalmente!
O grito já vem de longe, há trinta anos que se grita pela proteção do Tapajós, pela manutenção do equilíbrio ambiental dos ecossistemas amazônicos, pela proibição definitiva do uso do mercúrio na mineração aurífera, pelo tratamento das águas residuais antes de que estas invadam as águas boas de vida do rio.
O Tapajós era um rio azul, de águas limpas, brilhantes. Hoje é um caldo de barro sem brilho e sem vida.
Esta era a cor do Tapajós, na sua foz, até novembro passado, local em que ele deságua no Amazonas, de cor naturalmente amarelada.
E nas palavras de Nelson Vieira, fotógrafo, agrônomo e morador de Santarém: “As duas primeiras imagens foram feitas hoje (29/03/15) e mostram o Rio Tapajós com águas sem as cores verde-azuladas que lhe são características. As duas outras foram feitas em um passado bem recente, em agosto e novembro de 2014, apresentando cores bem típicas. Segundo moradores das margens do Tapajós, isso não resulta de um fenômeno natural, sendo consequência da atividade garimpeira no leito do Tapajós e de seus afluentes. Pelo jeito, a mistura de barro, lama e metais pesados chegou à foz do nosso lindo rio azul. E agora, José?”
Referência: GreenMe
*Texto | Catarina Schmitz Feijó