OBSERVAR A NATUREZA MELHORARÁ SUA CONCENTRAÇÃO

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Sobre a pesquisa: Os investigadores da Universidade de Melbourne – Kate Lee, Kathryn Williams, Leisa Sargent, Nicholas Williams e Katherine Johnson – atribuíram a 150 pessoas a tarefa monótona de premir teclas específicas quando determinados números surgiam num ecrã/tela de computador.
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Depois de cinco minutos, tiveram 40 segundos de intervalo e surgiu na tela a imagem de um telhado rodeado por edifícios altos. Metade dos sujeitos da experiência viram um telhado simples, de cimento; os outros viram um telhado coberto por um relvado florido.

Ambos os grupos retomaram a tarefa. Depois do intervalo, os níveis de concentração desceram 8% entre as pessoas que viram o telhado de cimento, cujo desempenho se tornou menos consistente.

Entre os que viram o telhado verde, os níveis de concentração aumentaram 6% e o desempenho manteve-se estável.

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A seguir, entrevista com um dos investigadores da Universidade de Melbourne, Kate Lee, e entenda os benefícios de observar a natureza no seu dia-a-dia:

Contemplar a natureza – mesmo que apenas num protetor de tela – aumenta, de fato, a concentração? Que benefícios podem resultar de 40 segundos de contemplação?

Sentimos, implicitamente, que a natureza é boa para nós, e tem havido muita investigação acerca dos seus vastos benefícios sociais, mentais e de saúde em geral e do mecanismo através do qual estes benefícios ocorrem. As nossas descobertas sugerem que experimentar as micro-pausas verdes – dedicar tempo a olhar a natureza pela janela, dar um passeio lá fora ou mesmo contemplar um protetor de tela – pode ajudar muito a melhorar a atenção e o desempenho no local de trabalho.

Como mediram o desempenho do sujeito?

Contamos os erros e analisamos a rapidez de resposta aos números. Isto mostra-nos faltas de atenção momentâneas – quando a pessoa se esquece de premir a tecla – e períodos de desconcentração mais longos, em que a pessoa passa pelas brasas no decurso do teste.

As pessoas que viram o telhado com o prado florido cometeram significativamente menos erros de omissão e mantiveram níveis de atenção mais consistentes, além de terem menos lapsos temporários. Ao contrário, no grupo que viu o telhado de cimento, o desempenho piorou depois do pequeno intervalo.

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Viram imagens do cérebro, para medir os níveis de atenção?

A medida comportamental que utilizamos – a “atenção mantida à tarefa de resposta” – foi previamente mapeada com recurso a imagens cerebrais, pelo que sabíamos que o cérebro responde de uma forma previsível quando a pessoa utiliza a sua atenção. Trata-se da capacidade de manter a atenção numa tarefa e bloquear as coisas que acontecem à nossa volta. Para ter um bom desempenho e realizar tarefas difíceis, precisamos de ambos.

A nossa atenção melhora se virmos um telhado verde, por quê? Estamos programados para gostar da natureza?

Nesta pesquisa tenho-me baseado na teoria da restauração da atenção, e esta sugere que os ambientes naturais têm benefícios para as pessoas. A teoria diz que, como a natureza nos fascina sem termos de fazer esforço, capta a nossa atenção sem que, conscientemente, tenhamos de nos concentrar nela. Não recorre ao nosso controlo de atenção, que usamos para todas aquelas tarefas quotidianas que exigem que nos concentremos. Assim, contemplar ambientes naturais oferece-nos a oportunidade de carregar os nossos depósitos de controlo de atenção. E isso é mesmo importante, porque estes são um recurso limitado, que utilizamos constantemente.

Muita da pesquisa da Psicologia Ambiental tem analisado apenas a maneira como as pessoas reagem a paisagens como florestas, bosques e parques por períodos muito mais longos. A nossa pergunta é se, com a maior parte da população hoje em dia a viver e trabalhar nas cidades, poderíamos considerar espaços verdes mais pequenos e intervalos mais curtos.

Por que 40 segundos? Vinte segundos também resultaria? Ou cinco?

Já existiam algumas pistas, pois outros investigadores tinham falado dos benefícios da natureza, obtidos apenas com breves vislumbres através de uma janela, mas ninguém explorara realmente a ideia. Então, começamos a pensar no gênero de espaço verde que podia ser visto na vida normal de trabalho. A moldura dos 40 segundos resultou de um estudo piloto que conduzimos, no qual sujeitamos as pessoas ao mesmo procedimento mas, ao chegar ao intervalo, elas podiam olhar o telhado verde o tempo que quisessem antes de retomarem a tarefa. Em média, eram 40 segundos. Ainda não sabemos se o intervalo pode ser mais breve, mas 40 segundos é muito menos tempo do que se experimentou em qualquer outro estudo.

Existe muita literatura acerca das micro-pausas?

Não, não existe. Algumas investigações recentes debruçam-se sobre as oportunidades de fazer pausas durante o dia, o que é verdadeiramente importante. Muita dessa literatura analisou intervalos mais longos fora do local de trabalho – ao fim do dia, no fim de semana ou nas férias. Agora é que se começa a pensar em estratégias simples, rápidas e eficazes, que sejam complementares aos outros gêneros de pausas.

Estes indivíduos apenas tinham de premir teclas. Como se aplicaria isto a tarefas mais complexas?

A tarefa era medir a atenção sustentada – a capacidade de manter a concentração e não dormitar ou pensar noutras coisas. Isto parece simples mas, na verdade, exige estarmos muito concentrados. E a atenção sustentada é uma função cognitiva fundamental que subjaz a todas as outras redes de atenção, como a executiva. É importante para atividades como ler, fazer marketing, estratégia e planejamento. Assim, o nosso trabalho aponta para aquilo que poderemos ver com tarefas mais complexas, mas precisaremos fazer mais investigação.

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Em que outros cenários do mundo real podemos ver estes efeitos?

Interessam-nos outras componentes do comportamento laboral, como a cordialidade e a criatividade. Desde o estudo, temo-nos debruçado sobre a ajuda entre colegas: pedimos às pessoas que nos comunicassem se estariam mais dispostas a ajudar os outros depois de uma micro-pausa verde, e os resultados têm sido positivos.

Fazer uma pausa para olhar pela janela pode levar-nos a sonhar acordados. Existe um ponto a partir do qual nos pode tornar menos produtivos?

Nesta etapa, ainda não sabemos. Há muitas questões que apresentam oportunidades para investigações futuras: como é que devemos incorporar as pausas verdes no dia de trabalho? De quanto tempo devem ser? Com que frequência precisamos delas? Quanto tempo pode durar os benefícios? São coisas em que precisamos pensar.

Acha que devo dar um passeio de bicicleta no bosque antes de começar a escrever?

Mal, não faz.

*Texto | Catarina Schmitz Feijó